Livros Velhos
Estão-me sempre a dizer que não devia comprar livros velhos: são feios, cheiram mal, ficam mal na estante...De facto, alguns livros velhos cheiram um bocado mal e de facto nem sempre ficam bem na estante, especialmente quando as lombadas estão rasgadas ou têm vincos. Mas, os motivos que me levam a comprar livros velhinhos transcendem o estado das lombadas. São três as razões e hoje apetece-me enumera-las. Não devem interessar a ninguém, mas apetece-me...
1. São mais baratos
Compro com frequência livros usados por sete, cinco e até por um euro. Na Feira do Livro consigo, muitas vezes, trazer por dez euros dois ou três livros, que custariam os olhos da cara umas bancas mais abaixo. Uma das minhas últimas aquisições foi um título de Vargas Llosa num alfarrábio lisboeta. Custou um euro e está muito velho, o problema é que custa 22,90 novo...Entre comprar velho ou ficar a namorar eternamente o livro no site da FNAC opto pela primeira. Claro que também há livros usados em bom estado...
2. Não consigo encontrar certos livros a não ser em segunda mão
Há muitos autores que nunca aparecem nos escaparates das livrarias. Só por encomenda ou nem assim...Quando faz anos que o autor x morreu ou nasceu é que lá aparece uma reedição. Portanto em alguns casos não há escolha possível entre novo e velho. Na Feira do Livro deste ano comprei dois livros de Somerset Maugham que nunca vi à venda sem ser em segunda mão. Depois dá-se o caso de algumas reedições não serem baratas.
3. Porque um livro usado traz muitas histórias consigo
Um livro novo traz consigo uma única história: aquela que esta impresa nas suas páginas. Um livro usado, porém, transporta consigo a história dos lugares onde esteve e das mãos por onde passou. Essas histórias estão expressas nas manchas, nos vincos da capa, nas anotações nas bordas das páginas...Não poucas vezes ponho-me a imaginar por onde já andou o livro que naquele momento tenho em mãos: quantas vezes terá sido lido, por que género de pessoas? terá passada de uma geração para a outra? É como um puzzle incompleto...Cabe à nossa imaginação encaixar as peças que faltam. Por exemplo, eu tenho um livro de Agatha Christie que está assinado pelo anterior proprietário: pela letra penso que se trata de um homem, de meia idade, com estudos. Imagino que se trata de alguém que tem de assinar documentos com frequência (médico, gerente?). Talvez o trabalho seja stressante e precise de um bom policial para relaxar. Claro que também pode não ser nada disto e para mim é aí que reside a graça. Nunca vou saber a verdade, por isso posso imaginar as suposições que quiser.
Claro que se tivesse dinheiro investia mais em livros novos (e em estantes novas!), mas o meu lado bibliófilo tem um certo carinho por livros usadotes. A carteira vai agradecendo, por enquanto...
Imagem tirada daqui