Escrito em 1969 Ada ou Ardor é considerado o romance mais complexo de Nabokov, autor do célebre Lolita. Um misto de romance com ficção científica com paródia, que se lê como se de um jogo se tratasse. O autor vai semeado pistas ao longo do texto que cabe ao leitor encontrar. Nada é o que parece e qualquer momento podemos tropeçar...A acção centra-se em Van e Ada, dois jovens provenientes de uma família aristocrática russa, que se apaixonam para toda a vida. Ao longo dos capítulos vamos acompanhando as desventuras deste amor: traições, separações e reencontros. A história começa no Verão de 1884 quando Van então com catorze anos vem passar as férias a Ardis Hall, a propriedade da sua tia Marina. Ai Van conhece a sua prima Ada com doze anos, que é na verdade sua irmã. O facto não os impede se entregarem despudoradamente um ao outro....Se forem muito puristas é melhor escolherem outra leitura.
A sua obsessão acaba por arrastar tudo à frente, incluindo a irmã de Ada, Lucette que terá o mesmo destino da Ophelia de Shakespeare. Um vórtice de dependência que os faz convergir sempre um para outro, apesar das longas separações e das infidelidades. A partir deste centro de acção surgem muitas outras histórias: Nabokov fala do scrabble, das borboletas, das diferentes espécies de orquideas…E do tempo. Ao longo de toda narrativa desenvolve-se o conceito de tempo e espaço. Van, o narrador, dedica os últimos capítulos precisamente à textura do tempo (“O passado é, portanto, uma constante acumulação de imagens”). De referir que a história se desenrola na Antiterra, um planeta onde a Rússia e os Estados Unidos estão ligados e onde os acontecimentos Históricos são uma versão alternativa dos da Terra. Apesar de se estar no século dezanove já existem carros e aviões, mas não existem telefones.
A estrutura do romance não é linear. A história é contada por Van já idoso, mas outras vezes é contada em terceira pessoa e há ainda intervenções de Ada. Esta mistura de vozes acontece com frequência no mesmo parágrafo. Também é frequente a história avançar e retroceder, “obrigando” o leitor a folhear os capítulos anteriores e a prestar bastante atenção aos pormenores. Há inúmeras referências a outros autores no texto: Maupassant; Shakespeare, Tchekov, Turgueniev, Tolstoi (o livro começa com a frase de abertura de Anna Karenina, mas invertida), além de referência a figuras como Toulouse-Lautrec e Freud (que Nabokov detestava) e até Vasco da Gama. A maior parte destas alusões estão escondidas sob a forma de trocadilhos ou anagramas (Borges passa para Osberg por exemplo). De facto, não faltam jogos de palavras que tornam o texto muitíssimo rico, além de vocábulos inventados pelo próprio autor. Nota positiva para o tradutor que verteu para a língua lusa as partes em francês (o livro foi escrito originalmente em inglês mas tem partes em francês e russo) e a explicação de alguns trocadilhos. O texto é de facto intrincado e denso, recheado de ironia e com descrições belíssimas. Em suma, trata-se de uma leitura portentosa que exige concentração e paciência, mas sem dúvida que vale a pena.
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