Uma Cana de Pesca para o Meu Avô
Uma Cana de Pesca para o Meu Avô de Gao Xingjian
É um texto que nos leva a reflectir sobre a brevidade da vida, mas sobretudo na indiferença que as pessoas manifestam umas pelas outras num mundo cada vez mais agitado. Esta indiferença também é expressa no terceiro conto A Cãibra em que um homem quase morre afogado, mas ninguém dá valor a essa experiência. Algumas temáticas são comuns a todos os contos: o campo por oposição à cidade, a infância, a memória…temáticas estas que parecem derivar da experiência de vida do autor. O quinto conto, No Parque, versa precisamente sobre a memória: duas pessoas conversam num parque sobre o seu passado. O sexto conto dá título ao livro e é também o mais extenso.
Um homem decide comprar uma cana de pesca que lhe lembra o avô e os tempos felizes da infância. É um texto doloroso, pois esses momentos felizes no campo com os avós foram substituídos por uma vida “robot” na grande selva de betão, com entretenimentos instantâneos e fúteis, além de perfeitamente controlados (“evidentemente toda a gente vê os mesmo programas, as informações nacionais das sete horas às sete e meia (…) um programa musical das nove e quarenta e cinco às dez horas”). Os cenários de infância foram destruídos pelo crescimento da cidade, funcionando a cana de pesca com um elo para aquele mundo perdido. O último conto intitula-se Instantâneos, sendo diferente de todos os outros: é constituído por momentos de vida de várias pessoas, como se se tratasse quase de um filme.A escrita do autor é de facto acessível e bastante lírica, o que acaba por contribuir para a sensação de melancolia e saudade dos contos (do penúltimo sobretudo). Ao mesmo tempo é uma escrita imprime ao texto uma beleza única, difícil de descrever por palavras.
Como apontamento biográfico, Gao Xingjian na china em 1940. Estudou língua e literatura francesa e entre 1966 e 1976 esteve preso num campo de trabalho (de “reeducação”). Em 1987 pediu asilo político à França, onde actualmente reside, tendo também adquirido nacionalidade francesa. Está proibido de publicar na china desde 1986. Em 2000 ganhou o prémio Nobel da Literatura.