Fahrenheit 451
Neste livro Ray Bradbury apresenta uma sociedade indiferente onde o pensamento é controlado pelo governo e onde a cultura foi destruída. Ler e possuir livros é crime e quem for apanhado é preso e os livros queimados (451 é a temperatura a que o papel queima). Aqui os bombeiros ateiam fogos em vez de os apagar. É uma sociedade completamente desumanizada onde as pessoas se matam sem razão alguma e atropelam animais por prazer. As relações foram substituídas pela televisão que funciona como família. Todos os cursos de filosofia e literatura foram fechados para evitar que as pessoas desenvolvessem capacidade crítica. E no meio disto tudo existe Montag, um bombeiro que durante dez anos exerceu a sua profissão sem nunca se questionar. Um dia conhece Clarisse uma rapariga de dezassete anos que presta atenção às flores e ao orvalho da manhã. O comportamento louco de Clarisse começa a semear dúvidas na cabeça de Montag levando-o a rebelar-se.
A actualidade desta história é arrepiante. Corremos cada vez mais depressa: casa, trabalho, casa...não andamos a 300 à hora como as personagens do livro porque não é permitido, mas quem tem tempo para apreciar um céu azul quando sai de casa? As relações transferiram-se para o mundo virtual, para as redes sociais que ironicamente não nos tornam mais sociáveis. Todos dias tiram-nos um pouco daquilo que nos torna humanos...que seremos então senão robots sem opinião? Quanto à cultura basta ver, por exemplo, a importância que tem no nosso país onde já nem sequer há um ministério e os teatros tem de cancelar espectáculos por falta de dinheiro. Da mesma forma é sabido que os cursos de humanidade têm vindo a perder alunos, porque simplesmente não são considerados importantes e porque ter um espirito crítico é algo incómodo. Os governos naturalmente não querem pessoas que saibam pensar, mas que engulam tudo o que é dado. Fahrenheit 451 é um livro de fantasmas, porque as personagens estão mortas, mesmo respirando.
Quando Montag se apercebe disto é perseguido e banido. É um livro duro e a escrita do autor não ajuda tornando tudo ainda mais absurdo. São incríveis as cenas em que Mildred (a mulher de Montag) está em frente aos ecrãs (eles tinham três ecrãs na sala) a dialogar com as personagens como se elas fossem reais. Quando a casa arde esta "família" é a única coisa que ela tem pena de deixar para trás...Não esperem portanto uma leitura fácil, mas sim uma leitura incómoda que nos leva a reflectir sobre os tempos em que vivemos.