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Desabafos Agridoces

"Enfim, bonito e estranho, desconfio que bonito porque estranho"

Desabafos Agridoces

"Enfim, bonito e estranho, desconfio que bonito porque estranho"

As Viagens de Gulliver

 

As Viagens de Gulliver de Jonathan Swift

Edição/reimpressão: 2010

Páginas: 288
Editor: Relógio D` Água
Preço:13,50€
 

Este é mais um caso de uma obra que foi erroneamente interpretada. As inúmeras adaptações para cinema e para televisão criaram a ideia de que se trata de uma história de aventuras ou até infantil. Na verdade, As Viagens de Gulliver são uma notável sátira dos vícios humanos. A narrativa é contada por Lemuel Gulliver um azarado cidadão inglês que em todas as suas viagens vai parar a ilhas bizarras. A primeira ilha é Liliput. As pessoas aqui são minúsculas e passam a vida em guerra com a ilha vizinha chamada Blefuscu.

 

O motivo é que Liliputianos acham que deve partir os ovos pela extremidade pontiaguda e os outros não. Além de um tanto irritantes, os liliputianos tem leis  que só funcionam na teoria e utilizam um método bastante dúbio para escolher os ministros: era esticada uma corda e quem saltasse mais alto sem cair ganhava o cargo. Por oposição a Lilipute, Brobingnag é uma ilha onde as pessoas são sensatas. E onde são também gigantes...não só as pessoas mas tudo desde as árvores até às ratazanas que têm o tamanho de galgos. Depois de ser apanhado por camponeses Gulliver passa a residir na corte onde tenta explicar ao rei o funcionamento das instituições inglesas. Mas não tem muito sucesso - "Descubro vagamente esboçada entre vós uma instituição, que originalmente podia ter sido tolerável, mas que a corrupção conspurcou (...)". Swift satiriza assim a sociedade inglesa expondo a corrupção das instituições e a sede de poder dos ministros. Os minúsculos liliputianos isso representam.

 

As ilhas do terceiro e quarto capítulo são menos conhecidas, mas igualmente interessantes. A Lapúcia, por exemplo, é uma ilha que tem a particularidade de voar. Os habitantes passam o tempo todo mergulhados em pensamentos a tal ponto que se esquecem do mundo exterior. Também não sentem curiosidade por nada a não ser Matemática e Música. O rei desta ilha exerce o seu domínio sobre Balnibarbi. Aqui as pessoas vivem mal, porque os sábios só pensam em questões inúteis  e não em resolver os problemas da população. A descrição da sua academia é impagável: ali encontramos cientistas preocupados em encontrar uma forma de começar a construir casas pelo telhado ou tentado encontrar formas de persuadir o monarca a escolher os seus favoritos tendo em conta a virtude e sabedoria destes entre "outras quimeras impossíveis". Gulliver visita ainda uma ilha (Glubbdubribb) onde os habitantes são feiticeiros e podem chamar à vida qualquer pessoa ilustre e outra (Luggnagg) onde as pessoas envelhecem mas não morrem. Ambas as visitas desapontam-no.

 

Na última parte Gulliver empreende uma viagem ao país dos Houyhnms. Estes são uma raça de cavalos que representam todas as virtudes que os homens deviam ter: não conhecem o conceito de mentir, nem o conceito de guerra ou o que é a ambição. Neste país vivem  também os Yahoos que representam todos os vícios que os homens têm. O autor sempre caustico é implacável aqui. Os yahoos são descritos como criaturas violentas, sem educação alguma, extremamente vorazes e ambiciosos além de sujos. Matam-se por "pedras brilhantes", e querem sempre ficar com o maior bocado para si. Isto é incompreensível para os Houyhnms que vivem em harmonia. Quando Gulliver vê as semelhanças entre si e as "bestas" fica desgostoso a tal ponto que quando regressa passa a viver isolado dos demais. O colonialismo é igualmente criticado o que é notável em pleno século XVIII (a obra foi escrita em 1726) Como o autor não se poupa nos pormenores algumas descrições são um pouco longas, de resto é uma obra  dura, muitíssimo actual  - “E a grande maioria dos nossos vivia miseravelmente, trabalhando de sol a sol e ganhando um mínimo, para uns tantos privilegiados viveram abastados” - e pertinente.

 

Para que serve a leitura?

 

"Altogether, I think we ought to read only books that bite and sting us. If the book we are reading doesn't shake us awake like a blow to the skull, why bother reading it in the first place? So that it can make us happy, as you put it? Good God, we'd be just as happy if we had no books at all; books that make us happy we could, in a pinch, also write ourselves. What we need are books that hit us like a most painful misfortune, like the death of someone we loved more than we love ourselves, that make use feel as though we had been banished to the woods, far from any human presence, like suicide. A book must be the axe for the frozen sea within us. That is what I believe."

 

Franz Kafka, cartas para  Oskar Pollak (1904)

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Quem Escreve Aqui

Feminista * plus size * comenta uma variedade de assuntos e acha que tem gracinha * interesse particular em livros, História, doces e recentemente em filmes * talento: saber muitas músicas da Taylor Swift de cor * alergia ao pó e a fascistas * Blogger há mais de uma década * às vezes usa vernáculo * toda a gente é bem-vinda, menos se vierem aqui promover ódio e insultar, esses comentários serão eliminados * obrigada pela visita!

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