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Para que serve
um powerpoint afinal?
Imagem retirada daqui
Uma aventura secreta do marquês de Bradomín de Teresa Veiga
Edição/reimpressão: 2008
Em “uma aventura secreta do marquês de Bradomín” um estudante universitário encontra, no Verão de 1920, na biblioteca do avô, o livro de memórias do marquês de Bradomín. Decido a investigar parte para Cerveira ao encontro de uma contemporânea do marquês, Edwarda. O resultado do encontro é uma carta escrita e enviada seis anos depois em que a senhora conta a passagem do marquês por sua casa. É aqui que se centra a acção, dividida em três partes, consoante vão entrando em cena as personagens, ou melhor à medida que vão seduzidas. A acção decorre unicamente num casarão onde vivia Edwarda, então com 23 anos, com a família, em Cerveira. A chegada do marquês vindo de Espanha vem alterar a vida da família. Num único espaço e num curto período de tempo, qual D.Juan, mas de uma descrição irrepreensível, o marques vai atraindo todas as mulheres da casa (até a criada), acabando por suceder uma inesperada tragédia que vai mudar a vida de todos. No último conto, “o maldito, Marianina, e o feitiço da rocha da pena”, Carlos Sampedro é um médico octogenário que habita num casarão num cerro na serra algarvia.
Durante a visita de amigos, tendo em vista não só a sua idade mas também a construção de uma auto-estrada que irá destruir o local, decide contar um segredo que se prende com a antiga proprietária da casa, Marianina, cuja única impossibilidade era não ter um filho. Quando consegue constata-se que a criança é feia e sombria. Pouco depois o marido é salvo por um bruto, Càssio, que passa a ensombrar a vida de todos no cerro. Com este conto, Teresa Veiga transporta-nos para uma outra era onde o diabo surge em forma de gente, responsável pela concepção do filho de Marianina, mas perecível, já que esta acaba por mata-lo. Ao faze-lo lança um feitiço sobre os habitantes do cerro que ninguém consegue quebrar. Esta é uma obra que merece atenção.
Nos seus contos Teresa Veiga faz uma incursão pelo universo do fantástico: o destino, libertinagem na pessoa do marquês, a personificação do diabo…o que pode causar alguma estranheza inicial, mas que a mestria da autora acaba por dissipar, prendendo-nos à áurea de mistério que envolve a acção. Contudo, nota-se um certo distanciamento entre o mágico e o real, como se convivessem em dois planos, como acontece em “as parcas”, em que a actividade das criadas se processa “de maneira discreta e silenciosa”, enquanto as demais personagens de nada sabem. A acção é sempre contada por terceiros, o que nos permite passar do momento presente para num outro lugar, seja um cerro no Algarve em tempos idos ou um casarão em Cerveira, no século XIX. Mesmo assim, a narrativa nunca perde a sua fluidez.
Diz-se que há livros que devem ser provados, mas outros, poucos, devem ser mastigados e digeridos. Este é um deles. Um exercício de estilo sóbrio e lúcido, por vezes irónico, onde o real e se liga ao romanesco, mas sobretudo um estilo inconfundível, condensado em pouco mais de cem páginas, que se lêem num fôlego….e se tornam a reler sem perigo de cair na monotonia.
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