O Contrabaixo
O Contrabaixo de Patrick Süskind
Edição/reimpressão: 1997
Páginas: 72
Editor:Difel
Preço: 8,08 €
Patrick Süskind é conhecido pelo seu livro “Perfume – A História de um Assassino” posteriormente adaptado ao cinema. Tal foi o sucesso (foram vendidos 15 milhões de exemplares em quarenta línguas) que acabou por abafar outras obras, entre as quais O Contrabaixo, escrito em 1981. Foi por isso com alguma curiosidade que o li. E gostei muito. O protagonista é um contrabaixista da orquestra nacional de Viena que nos vai falando da sua vida: da relação amor- ódio que tem com o contrabaixo (“parece uma velha gorda. As ancas muito descaídas, a cintura perfeitamente fora do sítio, moldada muito acima e muito estreita (…) ombros estreitos, raquíticos e pendentes…um desgosto!”); do seu lugar na orquestra, que é essencial mas passa sempre despercebido, das invejas e do seu amor secreto por uma meio-soprano.
Süskind tem uma característica que consiste em centrar-se na mente da personagem, escavando o seu interior e mostrando-nos os seus meandros tortuosos: as suas psicoses, as suas contradições…esta construção interior, dispensa o exterior. Em Perfume, tal característica é visível na parte em que Grenouille se esconde na caverna e durante sete anos vive unicamente “no reino da sua alma”. Em O Contrabaixo passa-se o mesmo: o autor centra-se exclusivamente na personagem da qual não sabemos o nome, apenas que tem 35 anos, e que se encontra no seu quarto à prova de som.
As informações sobre o exterior são dadas pelas didascálias que precedem os momentos de monólogo. São de grande importância pois conferirem ritmo ao texto. A peça inicia-se com a segunda sinfonia de Brahms e termina com o 1º andamento do quinteto das trutas de Schubert (piano, violino, viola, cello e contrabaixo). Aqui é a audição quem tem o lugar de honra. Até porque ao desfiar as suas amargas memórias o contrabaixista levamos também a conhecer a História do seu instrumento e da música clássica em geral (fruto da própria experiência do autor). Sendo uma leiga na matéria, achei fascinante. É curioso saber, por exemplo, que os maestros só apareceram no seculo XIX e que Mozart partia pianos. Há também uma ponta de crítica aqui e ali aos compositores e à própria sociedade. Um livro divertidamente ácido!