Das leituras não houve pausa
Esta foi a obra escolhida para ler durante a minha estadia na terrinha...E foi uma agradavel surpresa! Resumidamente: Agnes é uma jovem humilde e com bom coração que para ajudar a família decide trabalhar como preceptora. Ela tece altas expectativas, mas a função acaba por se revelar desgastante e nada compensadora. A pobre encontra gente do mais mesquinho e tem de fazer um grande esforço para conservar os seus valores morais, engolindo uma série de humilhações. Achei que ia ser uma leitura pesada, mas enganei-me.
Anne tem um sentido de humor notável, algo que não se encontra nas obras das irmãs mais velhas. Parece que estamos a ler Jane Austen, embora Anne não tenha aquela subtileza que suaviza o tom irónico próprio dos livros de Austen. Não contava rir-me mas aconteceu em vários momentos...Há vários temas sujeitos a crítica: as diferenças de classe, o papel da mulher que consistia apenas em que as meninas fossem o mais atraente possível ainda que não valessem nadinha por dentro, o fraco carácter dos seres humanos em geral...Anne consegue ser mesmo muito mordaz, não se coibindo de mostrar a mesquinhez e hipocrisia dos seus semelhantes. Trata-se de um livro de inegável actualidade...
De facto, podemos parecer muito evoluídos com as viagens a Marte ou com três televisores 3D na sala, mas na essência não mudamos grande coisa desde á milénios. Por exemplo, a dada altura Agnes (que é também a narradora) faz uma divagação sobre a beleza que se encaixa perfeitamente nos dias de hoje: não interessa se somos o Gandhi e a Madre Teresa juntos, se formos feias não temos hipótese. Bastante actual também a descrição de certos comportamentos femininos...
Para quem não gosta de descrições pormenorizadas é um bom livro porque não as tem. Pessoalmente não lhes senti a falta porque o li com o sino da igreja e o canto dos passarinhos em fundo fazendo-me quase sentir lá no presbitério. Só não vi passar nenhum Mr. Weston..Não se pode ter tudo realmente. A personagem principal é que não é grande coisa como heroína: nunca se revolta nem faz nada para mudar a situação...É o chamado pão sem sal. Porém, a sua bondade e inocência acabam por conquistar e damos por nós a desejar que ela tenha o seu final feliz. Em suma: Gostei!...Esta edição em particular é barata e não tem muitos erros, mas também há uma da Europa América.