O circo a arder...
Quando eu andava no básico havia duas coisas que me agradavam de sobremaneira. Uma era ir para a biblioteca ler a National Geographic e a Super Interessante e acreditem aprendi mais sobre o mundo a ler estas revistas do que na maior parte das aulas. Outra era ver o circo pegar fogo. Aquele momento em que as coisas descambam e vocês estão do lado de fora a apreciar. Parece cruel, mas eu tinha uma boa razão...É que a minha turma era um bando de idiotas e de víboras e portanto era frequente acontecerem coisas do além. Eu levei algumas mordidas o que pelo menos serviu para ficar vacinada por um tempos. Na altura não teve muita graça aliás não tinha graça nenhuma ver pessoas incautas a ser trucidadas psicologicamente, mas ás vezes aconteciam coisas que tinham a sua piada.
Uma dessas era o facto de todos os professores frouxos da escola virem parar á minha turma. Isto percebia-se logo nas aulas de apresentação. Ao fim de uma hora de aula eu já tinha percebido se aquele professor se ia dar bem na minha turma, se se ia dar precariamente ou se não se ia dar de todo. Neste último caso, bastavam umas semanas para ficarmos mergulhados em diversas ordens de caos. Nessas alturas eu ficava o mais quieta possível no meu canto de maneira a que nunca sobrasse para mim. Quanto mais caos houvesse menos matéria dávamos o que era bom porque significava menos coisas para estudar. Olhando para trás, tenho pena daqueles professores...Nem eram más pessoas, simplesmente não conseguiam controlar quase trinta almas adolescentes juntas. Mas eu tinha treze anos e só não queria chatices para o meu lado...A bem dizer raramente vinham. Sempre fui aluna com comportamento modelo por isso podia apreciar o caos com relativa segurança. No nono ano tive uma aula em que a minha turma foi toda para a rua menos eu e mais uns sete da fila da frente...Memorável. Só não me livrei de participar no pedido de desculpas colectivo que tivemos de fazer depois disso. Não serviu de nada de qualquer modo, aliás houve um professor a quem pedimos desculpas pelo menos umas seis vezes...
Mas havia um espectáculo que era melhor que todos. Era quando as víboras da minha turma se viravam umas contras as outras. Puxavam cabelos, insultavam-se...Um lindo exemplo de amizade feminina! Estas cenas costumavam chegar-me aos ouvidos por terceiras vias, mas por vezes, eu tinha a sorte de existir de camarote. Fartava-me de rir e não me arrependo. Era um pequeno prémio por aquilo que eu tinha de aturar. Já ss turmas onde fiquei a seguir era minimamente normais, não completamente livres de peçonha mas pelos menos funcionavam. De facto, aqueles três anos não foram os melhores dos tempos...Agora a sério gostar de um nadinha de caos não faz de mim uma má pessoa pois não?