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Desabafos Agridoces

"Enfim, bonito e estranho, desconfio que bonito porque estranho"

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"Enfim, bonito e estranho, desconfio que bonito porque estranho"

Filme: Dunkirk

dunkirk-poster.jpg

 

Com realização e argumento de Christopher Nolan, Dunkirk é a primeira adaptação para o grande ecrã da operação Dínamo: de 26 de Maio a 4 de Junho de 1940 perto de 340 mil soldados, especialmente ingleses, foram salvos das praias de Dunquerque onde tinham sido encurralados pelas tropas alemãs. Exaustos e sem nenhuma saída, nada mais restava a estes homens do que esperar pela morte. Mas o que começou por ser uma desastrosa derrota terminou como um milagre para qual contribuiu a coragem de centenas de civis que usando os seus próprios barcos levaram o máximo de homens que conseguiram até Dover, mesmo debaixo de intenso bombardeamento.


Vamos já tirar isto do caminho: Dunkirk não é um drama de guerra típico. Não tem personagens principais - não sabemos nada sobre estes homens (na verdade, uma boa parte deles não passam de crianças) e nem vamos ficar a saber. Só mesmo o que está à vista: que eles estão muito cansados e que querem muito ir para casa. Nada de conversas do tipo: "este sou eu e este é o meu amigo que conheci não sei onde e agora olhem para esta foto da minha adorável esposa que está em casa à espera". Em vez de se focar na história de b ou c o filme foca-se em dar uma perspectiva mais ampla do acontecido e por isso o enredo também não é linear e não segue uma ordem cronológica. Em vez de uma única perspectiva tem três que se alternam e encaixam - a perspectiva dos civis, dos aviadores que têm de proteger as tropas e das próprias que estão em terra.

 

Também não vamos ficar a saber muito mais sobre como é que eles acabaram naquela situação: quase não há contexto e quase não há diálogos. É cru, directo e tem um tom sombrio que é dado não apenas pelas bombas que caem com frequência, mas pelas próprias expressões daqueles soldados que denunciam logo nas primeiras cenas um intenso sofrimento psicológico, além do físico. Num momento estão a tentar ajudar-se e no outro estão a espezinhar-se que nem bichos. Uma luta pela sobrevivência em condições extremas para a qual o espectador é atirado logo sem nenhuma preparação prévia. O casting é esforçado e convincente ainda que havendo três linhas narrativas e não uma única, o tempo de antena para cada personagem seja um pouco reduzido. E tem de ser dito: depois de tanta gente a panicar porque o Harry ia estragar o filme, afinal ele não está nada mal. 

 

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A1.jpg

 

Visualmente é um filme primoroso - os planos da praia e da cidade abandonada dão uma sensação de isolamento e as cenas dentro dos navios ou em fila à espera deles são sufocantes. Ao contrário do que talvez fosse esperado o filme não acaba na altura do resgate mas sim já em Inglaterra - vemos grupos de homens a andar como zombies por uma linha férrea o que é daquelas imagens que não precisa de nenhuma explicação adicional. Há várias assim ao longo do filme. Tende-se a considerar que os custos de um conflito, sejam passados ou presentes, residem apenas no número de mortos passando por alto o efeito que isso tem nos sobreviventes...Como eles se pudessem simplesmente encaixar de novo numa vida normal. O contraste entre as cores verdes e vibrantes dos campos ingleses e as cores das cenas anteriores na praia sempre cinzentas e frias é belo e triste ao mesmo tempo. Gostei bastante e recomendo, especialmente se vocês tiverem um fraco por temas destes.

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