E afinal não era um escritor
É engraçado o número de escritoras que achamos que são homens - até que vamos ao Google ou até a autora falecer e aparecerem nas notícias fotos e dados biográficos. Se eu fosse escritora também iria assinar os meus livros com iniciais, só para ser troll...P. D. James? Nunca ouvi falar desse autor. Ayn Rand? Arundhati Roy? A .S. byatt? Há dias encontrei um comentário de alguém que dizia estar muito desapontado porque esperava que Elena Ferrante fosse um homem. Não explicava porquê...Não é para admirar. É isto que nos ensinam: que só eles é que vão à guerra, dirigem empresas, escrevem bons livros...Os seus nomes são dados a prémios, biografias são escritas, filmes são feitos a um ponto em que acabamos a ter dois filmes sobre cientistas masculinos num mesmo ano e numa mesma lista de premiação. As suas vidas dão épicos de jornalismo e espionagem! Já elas não têm nada a dizer sobre nada. As suas vidas não têm interesse - ideia passada por inúmeros historiadores e arqueólogos e que continuamos a aceitar como se fosse verdade. Pior ainda, achamos que elas devem estar caladas: não é um horror quando mulheres se juntam para falar de partos? Recentemente li um livro muito bom (Filhos do Inverno, Dea Trier Mørch) passado numa maternidade. Conta a história de um grupo de mulheres desde que entram lá até darem à luz. Apesar de ser um livro dos anos 70, tem reflexões bem actuais: fala da importância das mulheres partilharem a sua experiência sobre este momento tão marcante e de como elas têm todo o direito a isso. A mera ideia de alguém achar que a nossa história como género é menos importante ou menos digna devia provocar repúdio.