Sexismo nos Jogos Olímpicos
Eu disse que não ia falar aqui dos Jogos Olímpicos, mas há algo que não deve passar despercebido: o sexismo constante durante a competição, quer em comentários nas redes, em notícias...Um lamaçal sem fim e muita gente acha normal. Nem sequer digno de nota. Num evento de celebração do desporto percebemos como o mundo é tão hostil para as mulheres: Mulher de y ganha medalha de bronze, Michael Phelps partilha noite histórica com afro-americana, Muito bem marido - foi assim que um jornal anunciou o ouro nos 400 metros em natação de Katinka Hosszú, atribuindo a vitória ao seu treinador e marido. They’re less interested in the result and more interested in the journey, disse alguém num canal de TV. E quando se atinge um nível de total nonsense: três ginastas americanas (incluindo Simone Biles que só ganhou cinco medalhas) sofreram bullying na net por causa dos seus músculos: vocês acham isso atraente? Uma resposta tornou-se viral com mais de 50 mil retweets:
Temos de aplaudir pessoas que dizem aquilo que é preciso sem meias palavras - estas três linhas resumem todo um post sobre o assunto. Mas esta moça não foi a única a chutar o sexismo para canto. A 14 de Agosto do mês passado o tenista Andy Murray ganhou a medalha de ouro ao bater Del Potro ao fim de quatro horas de jogo. Depois da partida um repórter perguntou a Murray: "You're the first person ever to win two Olympic tennis gold medals, that's an extraordinary feat, isn't it?". Este sem hesitar dispara: "Well to defend the singles title, I think Venus and Serena have won about four each."
Murray foi o primeiro a ganhar duas medalhas de ouro nas partidas individuais. Não foi a primeira pessoa a conseguir isso na modalidade: Venus e Serena conquistaram o ouro em duplas em 2000, 2008 e 2012. Venus ganhou o ouro em individuais em 2000 e Serena em 2012. Além disso, Mary Joe Fernández e Beatriz Fernández ganharam o ouro em duplas em 1992 e 1996. Felizmente que Murray estava lá para lembrar a este "profissional da informação" que as mulheres também existem e que também são pessoas - e para mostrar que ser bicampeão e ser humilde não são coisas que se excluem. As conquistas femininas são constantemente passadas por alto: os livros de História dizem que foram os homens que fizeram o mundo enquanto nós ficámos sentadas a ver: aceitamos passivamente que as crianças aprendam isto. Quantas cientistas ou pintoras as pessoas em geral são capazes de nomear? Ou quantas sabem que temos Wi-fi ou ressonâncias magnéticas graças a mulheres? Não é uma questão de ver quem é melhor: é uma questão de justiça - e que envolve todos.